A precarização do trabalho docente, que já era uma realidade antes da pandemia, se agravou com a paralisação das atividades presenciais no setor da educação e com a pressão mercadológica para sua continuidade a todo custo.

As escolas e faculdades particulares implementaram, de imediato, o ensino remoto sem ao menos garantir a capacitação e a infra estrutura necessária aos seus professoras e professoras contratados. Segundo o Sinpro de São Paulo, professores de faculdades particulares enfrentam salas virtuais que reúnem até 180 estudantes de diversos campi, para reduzir custos com a folha de pagamento, sem reduzir os lucros das instituições. O sindicato também relata que, na ausência de qualquer proteção quanto ao uso de imagem e direitos autorais, materiais didáticos elaborados por professores e professoras demitidos pelas instituições continuam a serem usados pelas faculdades.

Em escolas públicas de redes municipais e estaduais, que também sofreram pressão para a retomada de suas atividades por parte dos governos, a situação também é de precarização do trabalho e queda na qualidade do ensino.

Em virtude da rápida modificação da ordem do trabalho no âmbito educacional, inserção abrupta de tecnologias no planejamento pedagógico parece não ter ficado tão clara . Com isso, esses aspectos pertinentes à organização do trabalho refletiram tanto em trabalhos adicionais, como preenchimento de mais planilhas, preparação e edição de mídias digitais, quanto na saúde e qualidade de vida os trabalhadores devido a sensação trabalho constante que acabou por intensificar os sentimentos de ansiedade e estresse.

Os docentes têm relatado um cotidiano de adoecimento e stress, relacionados às dificuldades de adaptação ao ambiente virtual e de conciliação do cotidiano doméstico com o trabalho remoto, em um momento de excepcionalidade como o que estamos vivendo. Docentes tem relatado sobrecarga de trabalho, dificuldade em assimilar novas habilidades em pouco tempo e em condições inadequadas, além de medo e ansiedade.

Uma pesquisa realizada pelo portal Nova Escola, que ouviu 8,1 mil educadores de todos os estados brasileiros das redes pública e privada, revela que 28% dos entrevistados avaliam a própria saúde mental como ruim ou péssima nesse momento. Entre os profissionais mineiros, o percentual é de 32%. A experiência de trabalho remoto foi classificada como ruim ou péssima por 72% dos participantes do estado. A pesquisa foi divulgada em julho.

Estes “novos” padrões laborais têm provocado instabilidade emocional e psicológica com efeitos psicossomáticos no organismo, atingindo diretamente o professor, que apesar do trabalho essencialmente intelectual sobrecarrega-se ao limite.

Em artigo sobre adoecimento docente publicado na “Revista Physys: saúde coletiva”, pesquisadores brasileiros apontam que “muitas vezes, por não conseguir atingir os objetivos propostos pela instituição, e devido às diversas pressões relacionadas ao manuseio das tecnologias, gravações de aulas, os docentes acabam adoecendo.” Os autores revelam também que “pesquisas internacionais já revelam o adoecimento docente expresso pelas incertezas, estresses, ansiedade e depressão, levando à síndrome do esgotamento profissional. Estudo chinês revela inúmeros docentes adoecidos mentalmente pela Covid-19, devido a transtorno depressivo leve, transtorno afetivo bipolar, ansiedade generalizada, transtorno de adaptação e síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional.”