247 – A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realiza, de 8 a 29 de julho, um Ciclo de Seminários sobre o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), que faria 100 anos no dia 22 de julho. São quatro mesas de debate, às quartas-feiras, com transmissão ao vivo pelo canal da FFLCH no YouTube.

A realização do evento mobilizou uma rede de instituições, sendo uma iniciativa conjunta da Faculdade com a Editora Contracorrente, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), o Instituto para a Reforma da Relações entre Estado e Empresa (IREE), a Biblioteca Virtual do Pensamento Social (BVPS) e a Articulação Discente pela Difusão do Pensamento Brasileiro.

A Faculdade e a Editora Contracorrente tinham planos de realizar o seminário antes da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas eles tiveram que ser revistos e reelaborados com a nova situação. Então, a opção foi realizar um ciclo de seminários virtual, que mantém a intenção de trazer tanto uma abordagem mais abrangente a respeito de Florestan como tratar também de temas mais específicos.

Debate e coleção 

A mesa de abertura contará com o filho do homenageado, Florestan Fernandes Jr., além da direção da FFLCH e da Editora Contracorrente.

As mesas de debate das duas primeiras semanas, mesas 1 e 2, apresentam uma perspectiva mais ampla, com os temas A sociologia de Florestan Fernandes e Ciência e Política em Florestan Fernandes. Enquanto que as mesas 3 e 4, remetem a livros específicos, cuja temática são muito atuais Revolução Burguesa no Brasil, ontem e hoje e Da integração do negro na sociedade de classes.

Para esses debates, a organização procurou unir pesquisadores mais jovens com consagrados, de diferentes regiões do Brasil e mesmo do exterior. Por isso, além de docentes da FFLCH que conviveram e/ou foram influenciados pela obra de Florestan – Maria Arminda do Nascimento Arruda, Lincoln Secco, Gabriel Cohn, Brasílio Sallum, Lilia Schwarcz – foram convidados docentes de outras instituições: da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Nacional de Quilmes, Universidade Presbiteriana Mackenzie, e as Universidades Federais do Pernambuco (UFPE), UFRJ e da UFABC.

Durante o ciclo de seminários, a Editora Contracorrente vai lançar a Coleção Florestan Fernandes, reeditando a obra de Florestan, mesclando livros mais conhecidos e alguns que só foram publicados uma vez, como Educação e sociedade no Brasil.

Segundo o coordenador da coleção, Bernardo Ricupero, professor do Departamento de Ciência Política da FFLCH, a intenção primordial da iniciativa é trazer Florestan de volta para o debate público brasileiro, visto que “seus temas – como índios, negros, desenvolvimento, socialismo, etc. – ainda são os nossos temas”.

O primeiro livro lançado da coleção é A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica, trabalho que saiu originalmente em 1975 “e que funciona como uma espécie de encruzilhada na trajetória do autor, em que culmina o trabalho do sociólogo que foi e abre caminho para a atividade como publicista revolucionário que se torna. Cada livro trará como prefácio estudos de pesquisadores mais jovens e como posfácio uma entrevista com um grande especialista em Florestan”, comenta Ricupero, que também é um dos organizadores do ciclo de seminários.

Importância para as Ciências Sociais brasileira 

Florestan Fernandes graduou-se em Ciências Sociais na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) – atual FFLCH –, ingressou como professor do curso de ciências sociais em 1945. Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o título de mestre com a dissertação A organização social dos Tupinambá. Em 1951, defendeu a sua tese de doutoramento na FFCL intitulada A função social da guerra na sociedade Tupinambá. Obteve o título de livre-docente em 1953, com a tese Ensaio sobre o método de interpretação funcionalista na Sociologia. Em 1964, defendeu a tese de cátedra, A integração do negro à sociedade de classes, considerado um dos trabalhos mais famosos do Brasil.

Em 1969, foi exonerado dos quadros da USP, vítima do decreto 477, o Ato Institucional nº 5 “das universidades”, junto com outros docentes como Fernando Henrique Cardoso e Caio Prado Júnior. Florestan exilou-se no Canadá, atuando na Universidade de Toronto, voltando ao Brasil em 1971. Foi deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo participado da Assembleia Nacional Constituinte.

O professor emérito – o nono a receber este título pela Faculdade – é considerado o fundador da Sociologia Crítica no Brasil. Dedicou-se aos estudos das perspectivas teórico-metodológicas da Sociologia.

“A importância de Florestan Fernandes para as ciências sociais brasileiras é enorme. É, em primeiro lugar, um dos principais responsáveis pela implantação no país de um padrão rigoroso de trabalho intelectual e pela própria institucionalização das ciências sociais brasileiras. Mas Florestan é também, em grande parte, um produto das próprias ciências sociais brasileiras. Filho de uma empregada doméstica, ingressa, como ainda é pouco comum no Brasil, na universidade e, mais especificamente, na Faculdade de Filosofia [,Ciências e Letras], que acabara de ser criada pela “missão francesa” e outras missões estrangeiras. Desde então, suas pesquisas e de orientandos chamaram a atenção para índios, negros, imigrantes, os “de baixo”, como gostava de dizer, personagens que antes não tinham grande espaço no pensamento brasileiro”, destaca Ricupero.

Programação:

O Ciclo de Seminários em comemoração ao centenário de Florestan Fernandes será realizado do dia 8 ao 29 de julho, às quartas-feiras, em quatro mesas de debate, com transmissão ao vivo pelo canal da FFLCH USP no YouTube.

Abertura 08/07, 17h: Maria Arminda do Nascimento Arruda (USP), Rafael Valim (Editora Contracorrente), Florestan Fernades Jr.

Mesa 1 – 08/07, 17h30: A sociologia de Florestan Fernandes: Elide Rugai (Unicamp),  Maria Arminda do Nascimento Arruda (USP),  Alejandro Blanco (Universidade Nacional de Quilmes – Argentina)

Mesa 2 – 15/07, 17h30: Ciência e Política em Florestan Fernandes: Silvio Almeida (Universidade Mackenzie), Lincoln Secco (USP), Eliane Veras (UFPE).

Mesa 3 – 22/07, 17h30: A revolução burguesa no Brasil, ontem e hoje: Gabriel Cohn (USP), Brasílio Sallum (USP), Antonio Brasil (UFRJ).

Mesa 4 – 29/07, 17h30: Da integração do negro na sociedade de classes à revolução burguesa no Brasil:  Lilia Schwarcz (USP), Jessé Souza (UFABC), Mário Medeiros (Unicamp).

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